segunda-feira, 7 de março de 2016

A Revolução Alimentar Começa Dentro de Nós

*Por Lai Pereira
laiEstava aqui fazendo uma reflexão a respeito das práticas da padronização de alimentos e abastecimento. E me veio à consciência de que elas existem porque nós as criamos. Sim, nós, consumidores, criamos as monoculturas, a pasteurização, a padronização, a racionalização extrema do aproveitamento máximo. E somente nós podemos mudar isso!
Basta pensar em como nos comportamos diante de um monte de frutas. Como nós escolhemos aquilo que vamos consumir? Pelo formato, pela uniformidade da cor, pelo tamanho. Assim, criamos um padrão de consumo. Os alimentos que não se enquadram em nosso comportamento são descartados.
Como consumidores, ensinamos aos nossos fornecedores os padrões que preferimos. Para alcançar estes padrões, grandes empresas padronizaram procedimentos e moldaram os alimentos. Hoje, estamos colhendo o que nós mesmos plantamos: métrica e, consequentemente, desigualdade social (porque o que não se encaixa na métrica é sistematicamente marginalizado e, ainda pior, exterminado).
E me pergunto, se conseguirmos abolir práticas da monocultura, por exemplo, nossos hábitos seletivos serão imediatamente alterados? Ou será o contrário, se mudarmos nosso comportamento diante do alimento, as práticas de fabricação serão alteradas?
Então, proponho aqui um desafio. Uma vez por mês mudar um hábito antigo, escolhendo o que for mais factível para o lar, usando como referência uma destas questões: desenvolvimento da economia solidária e local, valorização do ingrediente e do pequeno produtor local, valorização da diversidade das espécies alimentares, valorização dos produtos sem químicos e sem agrotóxicos, conhecer quem produz seu alimento, fim dos alimentos ultraprocessados, valorização da vida, fim do trabalho escravo, fim dos métodos abusivos do marketing e das multinacionais, consumo sem descarte e sem impacto ambiental. E, se possível, buscar o contato com a terra, mesmo que de vez em quando, seja plantando em vaso para quem tem pouco espaço, ou na própria Terra para quem tiver a oportunidade. Garanto que a mudança é possível! A revolução começa dentro de nós!
*Lai Pereira é Presidente do Conselho Cultura Alimentar de Curitiba e titular do Conselho Nacional de Políticas Culturais – Patrimônio Imaterial