Estava
aqui fazendo uma reflexão a respeito das práticas da padronização de
alimentos e abastecimento. E me veio à consciência de que elas existem
porque nós as criamos. Sim, nós, consumidores, criamos as monoculturas, a
pasteurização, a padronização, a racionalização extrema do
aproveitamento máximo. E somente nós podemos mudar isso!
Basta pensar em como nos comportamos diante de um monte de frutas. Como
nós escolhemos aquilo que vamos consumir? Pelo formato, pela
uniformidade da cor, pelo tamanho. Assim, criamos um padrão de consumo.
Os alimentos que não se enquadram em nosso comportamento são
descartados.
Como consumidores, ensinamos aos nossos fornecedores os padrões que
preferimos. Para alcançar estes padrões, grandes empresas padronizaram
procedimentos e moldaram os alimentos. Hoje, estamos colhendo o que nós
mesmos plantamos: métrica e, consequentemente, desigualdade social
(porque o que não se encaixa na métrica é sistematicamente marginalizado
e, ainda pior, exterminado).
E me pergunto, se conseguirmos abolir práticas da monocultura, por
exemplo, nossos hábitos seletivos serão imediatamente alterados? Ou será
o contrário, se mudarmos nosso comportamento diante do alimento, as
práticas de fabricação serão alteradas?
Então, proponho aqui um desafio. Uma vez por mês mudar um hábito antigo,
escolhendo o que for mais factível para o lar, usando como referência
uma destas questões: desenvolvimento da economia solidária e local,
valorização do ingrediente e do pequeno produtor local, valorização da
diversidade das espécies alimentares, valorização dos produtos sem
químicos e sem agrotóxicos, conhecer quem produz seu alimento, fim dos
alimentos ultraprocessados, valorização da vida, fim do trabalho
escravo, fim dos métodos abusivos do marketing e das multinacionais,
consumo sem descarte e sem impacto ambiental. E, se possível, buscar o
contato com a terra, mesmo que de vez em quando, seja plantando em vaso
para quem tem pouco espaço, ou na própria Terra para quem tiver a
oportunidade. Garanto que a mudança é possível! A revolução começa
dentro de nós!
*Lai Pereira é Presidente do Conselho
Cultura Alimentar de Curitiba e titular do Conselho Nacional de
Políticas Culturais – Patrimônio Imaterial