Foi uma semana agitada em Maringá: professores, pesquisadores,
estudantes, produtores rurais e profissionais de diversas áreas se
reuniram para participar da segunda edição do evento Paraná
Agroecológico. O encontro teve o objetivo de discutir os rumos da
agroecologia em nosso estado – que é, aliás, referência nacional no
setor. Diversas instituições de peso participaram da organização desse
importante evento: o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia
(CPRA), a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SEAB), a Secretaria
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o Instituto Agronômico do
Paraná (IAPAR), entre outras entidades. Além, é claro, da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), que sediou o evento.
No Paraná, esse é o principal encontro dedicado à temática da
agroecologia. “Trata-se de um evento muito importante para difundirmos
esse conjunto de saberes e práticas que alcança, cada vez mais, notável
relevância em nossa sociedade”, contextualiza o diretor-presidente do
CPRA, João Carlos Zandoná. Segundo ele, a agroecologia é uma poderosa
ferramenta para a sustentabilidade em praticamente todos os sentidos.
"O que nos traz aqui é uma utopia, um olhar para o horizonte",
comenta Norberto Ortigara, atual secretário estadual da agricultura e
abastecimento no Paraná. Em suas próprias palavras precisamos "adotar
uma agenda proativa no sentido de fortalecer as iniciativas de produção
em bases mais ecológicas”. Segundo Ortigara, nosso estado tem se
esforçado para minimizar os impactos negativos da agricultura
convencional. E, ao mesmo tempo, vem ampliando os modelos sustentáveis
de produção.
“A mecanização e a tecnologia trouxeram muitos avanços para nossa
agricultura. Mas, ao mesmo tempo, é preocupante o fato de que perdemos
muito em termos de qualidade ambiental em nossos ecossistemas”, pondera
Ortigara. Ele se refere à degradação dos solos, das águas e da perda de
biodiversidade. Em sua fala, o secretário também destacou algo que
considera notável avanço no setor – o fato de que, nos últimos anos, o
Paraná teve significativo aumento no número de feiras e espaços de
comercialização para produtos agroecológicos.
Também na abertura do evento esteve presente o professor Júlio César
Damasceno, vice-reitor da UEM. Para ele, a agroecologia é uma prática
emancipatória. "É difícil viver em um mundo no qual não mais somos donos
de nossas próprias sementes; e nem mesmo do chão em que as plantamos",
diz. "Temos de pedir licença para fazer o uso de nossa própria terra." É
por isso que Damasceno vê, na agricultura de base ecológica, o
potencial de realização de uma sociedade mais justa.
A temática comercial também esteve na pauta no Paraná Agroecológico.
"Em um futuro muito próximo, as barreiras comerciais não serão mais
alfandegárias. Elas serão ambientais", afirmou Nelton Miguel Friedrich,
representante da área de meio ambiente da Itaipu Binacional. Em outras
palavras, critérios de sustentabilidade socioambiental já são – e serão
cada vez mais – decisivos para mercados nacionais e internacionais. É
exatamente por isso que, segundo Friedrich, a demanda por produtos
agroecológicos só tende a crescer.
Apesar de ser normalmente pensada a partir de uma perspectiva local, a
agroecologia também precisa ser inserida no grande cenário das relações
internacionais e dos atuais desafios civilizatórios que ainda temos por
superar. Por esse motivo, Friedrich não deixou de enfatizar a íntima
relação entre os métodos agroecológicos de produção e os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
propostos pelas Nações Unidas em 2015. Para quem não lembra, essas
metas foram divididas em 17 ítens. Mas o que isso tem a ver com
agroecologia? Em uma palavra: tudo. Afinal, de uma forma ou de outra, o
modelo de sociedade preconizado pelo pensamento agroecológico parece
dialogar com praticamente todos os objetivos elencados como prioritários
pela cúpula das Nações Unidas. São eles:
Objetivo 1 | Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
Objetivo 2 | Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
Objetivo 3 | Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
Objetivo 4 | Assegurar a educação inclusiva e
equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos
Objetivo 5 | Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
Objetivo 6 | Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos
Objetivo 7 | Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
Objetivo 8 | Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
Objetivo 9 | Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
Objetivo 10 | Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
Objetivo 11 | Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
Objetivo 12 | Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Objetivo 13 | Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos
Objetivo 14 | Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
Objetivo 15 | Proteger, recuperar e promover o uso
sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da
terra e deter a perda de biodiversidade
Objetivo 16 | Promover sociedades pacíficas e
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à
justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis
Objetivo 17 | Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
Essa é a
agenda de sustentabilidade socioambiental que nos deverá nos guiar pelos próximos 15 anos.
O Brasil, aliás, teve papel relevante nas
negociações que culminaram nesse acordo global – que foi consequência
direta da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20), realizada no Rio de Janeiro (RJ) em 2012. Tal
contexto, portanto, reforça a pertinência da realização de eventos como o
Paraná Agroecológico. “Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
são”, na opinião de Friedrich, “um verdadeiro libelo de valorização da
agroecologia”.
Henrique Kugler