Agricultoras, assessoras técnicas,
ativistas de movimentos e coletivos feministas debateram experiências
para estimular a auto-organização das mulheres durante a IX EnconASA.
Imagem: Divulgação
A presidenta do Conselho de Segurança
Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, participou do IX
Encontro Nacional da Articulação Semiárido – EnconASA, realizado na
cidade de Mossoró (RN), de 21 a 25 de novembro. Maria Emília falou sobre
sua experiência na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), durante
uma Plenária de Mulheres do Semiárido, que reuniu agricultoras, assessoras técnicas, ativistas de movimentos e coletivos feministas.
A atividade teve ainda, como debatedoras, Conceição Dantas, da Marcha
Mundial de Mulheres, Vânia Maria, do Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais (MMTR-PE), e Glória Araújo, da coordenação da
Articulação Semiárido Brasileiro. As convidadas fizeram uma discussão
sobre experiências de auto-organização das mulheres.
Às participantes da Plenária de Mulheres do Semiárido, a presidenta
do Consea relatou o processo percorrido pelas mulheres até a criação do
Grupo de Trabalho (GT) que discute gênero na ANA. “Fomos discutindo cada
tema a partir do interesse das mulheres, garantindo a sua participação
nos encontros. Às vezes a gente ouve ‘temos que introduzir o tema das
mulheres’, mas temos que ter claro que mulher não é tema, elas são
sujeitos políticos e há que se ter o compromisso das organizações mistas
com o que representam as mulheres”, alertou.
Mudar o mundo para mudar a vida da mulher
Já Conceição Dantas destacou a necessidade de implementar a consigna
MMM: “Mudar o mundo, para mudar a vida das mulheres para mudar o mundo”,
partindo da ideia de que não haverá transformação na vida das mulheres
se elas não se organizarem para mudar o mundo.
A ativista trouxe ainda a preocupação de que as mulheres assumam o
protagonismo dos processos de formação e participem das decisões sobre o
uso dos recursos: “A água tem sido fundamental na vida das mulheres.
Mas nós não queremos que as mulheres sejam só beneficiárias. É preciso
discutir não só a água de produção, mas a água da reprodução, o que é
importantíssimo também, a água da cisterna deve servir também para lavar
a roupa, dar banho nas crianças”, afirmou.
Água e libertação
Para Glória Araújo, políticas de convivência com o Semiárido e os
processos de formação impactaram positivamente a vida das mulheres: “A
água representou libertação para mulheres que andavam quilômetros em
busca dela. Os intercâmbios foram importantíssimos para que as mulheres
possam falar das suas experiências. Quantas delas não dizem ‘eu não
sabia que o que eu fazia tinha tanto valor’? A gente precisa cada vez
mais de uma abordagem metodológica que traga as mulheres para a
centralidade do debate, para dentro dos processos de formação. Sabemos
que existem iniciativas nos estados, mas é preciso articular essas
iniciativas”.
Após as falas das debatedoras, foi aberto um espaço para debate com a
plenária. Liliane de Carvalho Silva, do Movimento Ibiapano de Mulheres,
de Viçosa do Ceará (CE), trouxe a preocupação com a sobrecarga de
trabalho a que as mulheres ainda são submetidas, o que influencia no seu
grau de participação e organização: “Para que as mulheres ocupem os
espaços políticos, elas precisam ter tempo. Precisamos discutir a
divisão sexual do trabalho, que interdita essa participação. Precisamos
pensar em como incluir a questão do cuidado com as crianças, que seja
uma responsabilidade dos homens também e pensar como trabalhamos isso
nos eventos”.
Violência
Outro tema que apareceu com força nos debates foi a questão das
várias formas de violência contra a mulher. Para Giselda Bezerra do Polo
da Borborema, na Paraíba, os momentos de debate só com as mulheres são
fundamentais para que elas possam falar sobre as suas vidas e perceberem
a violência, que muitas vezes está oculta ou travestida: “Precisamos
fazer a mulher entender que ser chamada de burra também é uma violência.
Que se seu marido sente ciúmes não é porque ele é muito apaixonado por
ela, como muitas vezes é levada a pensar”, disse.
A plenária foi encerrada com a proposta de realização de um encontro
de mulheres do Semiárido para 2017 que teria como objetivos valorizar o
papel das mulheres e suas formas de auto-organização e aprofundar a
discussão sobre as várias formas de violência sofridas, incluindo o
combate intransigente à cultura do estupro, que culpa a própria vítima
por este tipo de crime.