segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

II PARANÁ AGROECOLÓGICO | Encontro em Maringá discute os caminhos da agricultura sustentável no estado

Foi uma semana agitada em Maringá: professores, pesquisadores, estudantes, produtores rurais e profissionais de diversas áreas se reuniram para participar da segunda edição do evento Paraná Agroecológico. O encontro teve o objetivo de discutir os rumos da agroecologia em nosso estado – que é, aliás, referência nacional no setor. Diversas instituições de peso participaram da organização desse importante evento: o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SEAB), a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), entre outras entidades. Além, é claro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que sediou o evento.

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No Paraná, esse é o principal encontro dedicado à temática da agroecologia. “Trata-se de um evento muito importante para difundirmos esse conjunto de saberes e práticas que alcança, cada vez mais, notável relevância em nossa sociedade”, contextualiza o diretor-presidente do CPRA, João Carlos Zandoná. Segundo ele, a agroecologia é uma poderosa ferramenta para a sustentabilidade em praticamente todos os sentidos.
"O que nos traz aqui é uma utopia, um olhar para o horizonte", comenta Norberto Ortigara, atual secretário estadual da agricultura e abastecimento no Paraná. Em suas próprias palavras precisamos "adotar uma agenda proativa no sentido de fortalecer as iniciativas de produção em bases mais ecológicas”. Segundo Ortigara, nosso estado tem se esforçado para minimizar os impactos negativos da agricultura convencional. E, ao mesmo tempo, vem ampliando os modelos sustentáveis de produção.
“A mecanização e a tecnologia trouxeram muitos avanços para nossa agricultura. Mas, ao mesmo tempo, é preocupante o fato de que perdemos muito em termos de qualidade ambiental em nossos ecossistemas”, pondera Ortigara. Ele se refere à degradação dos solos, das águas e da perda de biodiversidade. Em sua fala, o secretário também destacou algo que considera notável avanço no setor – o fato de que, nos últimos anos, o Paraná teve significativo aumento no número de feiras e espaços de comercialização para produtos agroecológicos.
Também na abertura do evento esteve presente o professor Júlio César Damasceno, vice-reitor da UEM. Para ele, a agroecologia é uma prática emancipatória. "É difícil viver em um mundo no qual não mais somos donos de nossas próprias sementes; e nem mesmo do chão em que as plantamos", diz. "Temos de pedir licença para fazer o uso de nossa própria terra." É por isso que Damasceno vê, na agricultura de base ecológica, o potencial de realização de uma sociedade mais justa.
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A temática comercial também esteve na pauta no Paraná Agroecológico. "Em um futuro muito próximo, as barreiras comerciais não serão mais alfandegárias. Elas serão ambientais", afirmou Nelton Miguel Friedrich, representante da área de meio ambiente da Itaipu Binacional. Em outras palavras, critérios de sustentabilidade socioambiental já são – e serão cada vez mais – decisivos para mercados nacionais e internacionais. É exatamente por isso que, segundo Friedrich, a demanda por produtos agroecológicos só tende a crescer.
Apesar de ser normalmente pensada a partir de uma perspectiva local, a agroecologia também precisa ser inserida no grande cenário das relações internacionais e dos atuais desafios civilizatórios que ainda temos por superar. Por esse motivo, Friedrich não deixou de enfatizar a íntima relação entre os métodos agroecológicos de produção e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pelas Nações Unidas em 2015. Para quem não lembra, essas metas foram divididas em 17 ítens. Mas o que isso tem a ver com agroecologia? Em uma palavra: tudo. Afinal, de uma forma ou de outra, o modelo de sociedade preconizado pelo pensamento agroecológico parece dialogar com praticamente todos os objetivos elencados como prioritários pela cúpula das Nações Unidas. São eles:

Objetivo 1 | Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
Objetivo 2 | Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
Objetivo 3 | Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
Objetivo 4 | Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
Objetivo 5 | Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
Objetivo 6 | Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos
Objetivo 7 | Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
Objetivo 8 | Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
Objetivo 9 | Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
Objetivo 10 | Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
Objetivo 11 | Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
Objetivo 12 | Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
Objetivo 13 | Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos
Objetivo 14 | Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
Objetivo 15 | Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
Objetivo 16 | Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
Objetivo 17 | Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

Essa é a agenda de sustentabilidade socioambiental que nos deverá nos guiar pelos próximos 15 anos. O Brasil, aliás, teve papel relevante nas negociações que culminaram nesse acordo global – que foi consequência direta da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), realizada no Rio de Janeiro (RJ) em 2012. Tal contexto, portanto, reforça a pertinência da realização de eventos como o Paraná Agroecológico. “Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável são”, na opinião de Friedrich, “um verdadeiro libelo de valorização da agroecologia”.


Henrique Kugler