segunda-feira, 9 de abril de 2018

Você tem o direito de saber o que come!


Imagem: Ascom/Consea A rotulagem de alimentos faz parte de um conjunto de medidas regulatórias para a promoção da saúde que será discutida na próxima plenária do Consea, no dia 11 de abril.
A rotulagem de alimentos faz parte de um conjunto de medidas regulatórias para a promoção da saúde que será discutida na próxima plenária do Consea, no dia 11 de abril.
Manter uma alimentação saudável vai além do querer. Muitas vezes os consumidores são bombardeados por propagandas e levados a comprar produtos ultraprocessados sem direito a uma informação clara do conteúdo nutricional. As altas quantidades de açúcar, sódio e gorduras trans, por exemplo, aparecem em letras pequenas na parte de trás das embalagens.
Mas já pensou em chegar no mercado e ver ali na parte da frente da caixinha um alerta sobre altos teores de ingredientes que prejudicam a saúde? Essa seria a melhor forma de promover escolhas alimentares conscientes, de acordo com a conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Ana Paula Bortoletto.
“Nós temos uma proposta, baseada no modelo do Chile, que já tem resultados positivos mostrando que as pessoas conseguem entender de fato o que elas estão consumindo quando é colocado um alerta sobre conteúdo alto de nutrientes que são prejudiciais à saúde como açúcar, sódio e gorduras”, explica ela. No modelo proposto, a informação deve vir dentro de um triângulo preto com bordas brancas impresso na parte da frente da embalagem.
A rotulagem de alimentos faz parte de um conjunto de medidas regulatórias para a promoção da saúde que serão discutidas na próxima plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no dia 11 de abril, em Brasília.
Confira o que diz a especialista:
Nem tudo é culpa sua
Ainda temos na cabeça que é culpa do indivíduo, culpa do que você está comendo, porque não sabe escolher. Mas, na verdade, tem todo um ambiente e diferentes fatores que influenciam nessa escolha [alimentar] e que afetam muito mais que apenas a educação. Claro que educação é fundamental. Mas, se não tiver um ambiente que garanta informação, que tenha oferta acessível, que tenha um preço acessível e que reduza o apelo da publicidade, as escolhas alimentares vão continuar sendo influenciadas por todos esses fatores.
Então, a regulação entra para construir um ambiente que favoreça escolhas mais saudáveis. Hoje, existe um ambiente em que as coisas saudáveis são mais caras, são mais difíceis de serem encontradas e a informação não é clara sobre o que as pessoas estão consumindo. As pessoas não conseguem entender o que elas estão consumindo. Além de o direito à informação estar sendo violado, a gente está culpando demais as pessoas por algo que o ambiente todo está influenciando. Não é à toa que há um grande número de pessoas cada vez mais doente por diabetes, pressão alta, câncer, obesidade. Se a gente não mudar o ambiente através da regulação, a gente não vai conseguir reverter esse cenário. É um problema de saúde pública.
Não dá mesmo pra entender
O apelo publicitário é muito grande e as informações que aparecem não são claras. Quando tem informação sobre composição do alimento, só aparece na lista de ingredientes que está atrás [da embalagem] com uma letra pequena, com contraste de cor péssimo. E, mesmo querendo buscar a informação, a pessoa, por muitas vezes, não consegue.
Você tem o direito de saber
Nesse momento, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] está avaliando diferentes propostas de melhorar a informação nutricional para o  consumidor. Nós temos uma proposta, baseada no modelo do Chile, que já tem  resultados positivos mostrando que as pessoas conseguem entender de fato o que elas estão consumindo quando é colocado um alerta sobre conteúdo alto de nutrientes que são prejudiciais à saúde como açúcar, sódio e gorduras. Há uma proposta que foi construída por um grupo de designers da Universidade Federal do Paraná, que analisou todo um contexto de qual o melhor contraste, melhor cor, tamanho da letra. O símbolo é um triângulo preto (veja na imagem).
Nós entendemos que os alimentos que são processados e ultraprocessados, se tiver conteúdo excessivo de açúcar, sódio, gordura saturada, gordura total e a presença de gordura trans e adoçante, tem que ter uma advertência para que as pessoas consigam de fato saber o que elas estão consumindo. Hoje, nas embalagens, só tem destaque positivo como dizer que é integral ou figura de uma fruta que remete a ser saudável mas quando você vai analisar de fato a composição desses alimentos, vê que eles não são saudáveis. Tem que mudar um pouco essa relação, que é muito desigual. O destaque para o positivo é muito grande e a informação dos riscos à saúde não está bem destacada.