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Maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o Brasil permite o uso de produtos proibidos em outros países. E testes da Anvisa encontram nos alimentos resíduos em quantidades muito acima do limite permitido | Foto: Romulo Pena Scorza Jr/Embrapa |
Da RBA
Enquanto a bancada ruralista defende a supressão do símbolo dos transgênicos em rótulos de alimentos –
o conhecido T preto dentro do triângulo amarelo –, dificultando assim a
informação à qual o consumidor tem por direito, um projeto de lei
defende que as embalagens passem a informar sobre os agrotóxicos
utilizados no alimento processado e in natura. E mais: veta a
utilização no Brasil de produtos proibidos em países aos quais se
destinam as exportações agropecuárias brasileiras.
Protocolado na última quinta-feira (19) pelo deputado federal Ivan
Valente (Psol-SP), o PL estabelece que os fornecedores deverão informar
nas embalagens, de forma clara e adequada, os agrotóxicos que foram
utilizados no cultivo dos grãos, frutas, legumes e verduras que entraram
no preparo. E que, em caso de produtos in natura, essas informações deverão estar em local visível, próximo ao de exposição no ponto de venda.
Se a proposta for aprovada pelos deputados e senadores, qualquer
pessoa, física ou jurídica, poderá solicitar análise de alimentos para
aferir os níveis de resíduos de agrotóxicos em laboratórios a serem
credenciados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No caso de alimentos que contenham resíduos em níveis acima do limite
estabelecido pela agência ou de produtos de uso proibido ou não
recomendados para o cultivo, o fornecedor deverá retirá-los do mercado.
O poder público, conforme o projeto, deverá garantir aos consumidores
brasileiros a mesma proteção contra os agrotóxicos conferidas pelas
autoridades de saúde estrangeiras à sua população.
Perigos
A proposta de Ivan Valente é respalda pelo fato de o Brasil ser o
campeão mundial no consumo de agrotóxicos ao mesmo tempo em que a
população em geral desconhece os perigos à sua saúde e do meio ambiente.
“O modelo de produção de alimentos em escala industrial, sem
preocupação com o equilíbrio ambiental e com a saúde pública, tem levado
à concentração de terras, monoculturas e uso de agrotóxicos em
quantidades que colocam em risco a vida dos brasileiros”, justifica o
parlamentar, que destaca ainda a correlação entre a exposição a esses
produtos e ao consumo de alimentos com eles cultivados e os graves
problemas de saúde. São distúrbios que afetam diversos sistemas do
organismo, causando vários tipos de câncer, alterações reprodutivas e
malformações, além de quadros agudos, geralmente respiratórios e
alérgicos.
Em seu projeto, Valente destaca ainda a insuficiência das informações
ao consumidor sobre os riscos presentes nos relatórios da Anvisa acerca
dos resultados das análises de resíduos desses venenos nos alimentos.
“É possível que a grande maioria dos consumidores sequer sabe da
existência dessas informações, de maneira que estão consumindo às
escuras sem conhecer os riscos que determinados alimentos podem
representar à sua saúde em razão da forma em que foram cultivados”,
destaca.