segunda-feira, 2 de maio de 2016

Guarani supera dificuldades e vira fornecedor do PAA

O índio Guarani Leonardo Silva, da aldeia Aguapeú, em Mongaguá, no litoral Sul, se transformou em modelo de agricultor familiar a ser seguido. Ele é um dos pioneiros em todo o Estado de São Paulo a integrar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Agricultura Familiar, do Governo Federal.
Aguapeu-Leonardo-04Leonardo (foto) fornece periodicamente parte de sua produção para o Banco de Alimentos da Prefeitura de Itanhaém, que opera o PAA na cidade por meio de parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Para conseguir produzir esse excedente e comercializá-lo, contou com o apoio de técnicos do Departamento de Agricultura de Itanhaém e da Fundação Nacional do Índio, a Funai.
Além de se integrar aos esforços de segurança alimentar para famílias de baixa renda de Itanhaém, Leonardo também contribui para a conservação da cultura alimentar de sua comunidade. Ele cultiva um alimento considerado sagrado pelo povo Guarani, o milho Guarani, o avaxi etei.
É da roça de Leonardo que estão saindo em quantidade razoável sacas de sementes desse raro cereal (ver box) para entrega e posterior cultivo em aldeias da região e em outras, mais distantes.
PAA
Os indígenas estão no topo de lista de prioridades do PAA em Itanhaém, segundo gestores do Banco de Alimentos do município. A atenção junto aos índios se insere em duas frentes: garantir que haja alimento de qualidade para a sua dieta e dar suporte às quase sempre deficientes produções agrícolas das aldeias.
“Iniciamos essa estratégia com as aldeias por meio da Funai- Coordenação Regional do Litoral Sudeste”, explica Luciana de Melo Costa, gestora do banco, ligado à Secretaria de Educação local.
“Além do PAA, buscamos dar prioridade à inclusão do indígena também nos demais programas de segurança alimentar que se seguiram, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Paulista de Agricultura de Interesse Familiar (PPAIS)”, recorda Luciana.
‘O trabalho de identificação de potenciais produções agrícolas nas reservas demarcadas teve início em 2010 e contou com o suporte técnico do Departamento de Agricultura de Itanhaém’
Leonardo da Silva foi o primeiro produtor indígena a integrar o PAA no município. “Acreditamos que seja o primeiro do Estado a participar do programa”, afirma Luciana. A produção de qualidade – 30 quilos de mandioca e 447 quilos de palmito pupunha – e as entregas contínuas de Leonardo ao longo de 2015 são provas de que é possível a integração do indígena como beneficiário e produtor.
“Acreditamos que, por todas as especificidades que cercam os povos indígenas, demos um passo importante na nossa gestão, trazendo ações efetivas de inclusão e enriquecimento das políticas públicas de segurança alimentar e nutricional locais. Para 2017, nosso plano é diversificar a produção e aumentar o número de produtores indígenas beneficiários”, diz Luciana.
Aguapeu-Leonardo-02Produção familiar e tradicional
Na Aldeia Aguapeú vivem cerca de 100 indígenas de 12 famílias. Eles cultivam açaí, pupunha, banana, mandioca, batata doce e, claro, milho guarani. Praticamente todos os produtos são para a subsistência, com exceção da mandioca e do palmito pupunha, que é vendido fora do tekoá (aldeia Guarani).
Leonardo é uma exceção entre os outros cultivadores do tekoá. É o maior produtor entre todos que ocupam o morro, a aldeia está localizada em um morro bastante íngreme, isolado por um rio, o Aguapeú, e de caminhos escorregadios. Um local difícil de produzir e de escoar essa produção.
São cerca de seis hectares, ou 60 mil metros quadrados, onde ficam os cultivos mantidos por Leonardo, que também cuida de um orquidário. Das suas plantações, é possível avistar o mar e o Centro de Mongaguá, cidade onde fica a Aguapeú, núcleo indígena surgido na década de 1930 e que só foi demarcado em 1998.
Em pequenas áreas mais planas aqui e ali, por entre bananeiras, pupunheiras, palmeiras de açaí e outras espécies mais tradicionais, Leonardo cultiva as suas mudas de milho. São duas colheitas por ano. A primeira ainda passava pelo processo de secagem, em abril último.
Leonardo Silva entregou com periodicidade e qualidade cerca de 450 quilos de palmito pupunha e 30 quilos de mandioca ao Programa de Aquisição de Alimentos em Itanhaém.
Reservado e migrante como costumam ser os Guarani, Leonardo chegou à Aguapeú nos anos 1990. Ele nasceu em Santa Catarina, numa aldeia próxima a Chapecó. Plantou milho Guarani desde que era um kyringue (criança em Guarani).
“Quando eu comecei a plantar foi o pessoal da Funai que me ajudou bastante para entregar. Está muito legal a plantação. É difícil chegar a esse ponto em que cheguei ”, diz Leonardo. “Tenho muito orgulho do meu trabalho e não posso parar mesmo, agora, depois de tudo isso”, brinca. Ele afirma que fornecer o milho para a merenda das crianças Guarani será um “outro grande orgulho”.
in. http://litoralsustentavel.org.br/boas-praticas/guarani-supera-dificuldades-e-vira-fornecedor-do-paa/