O índio Guarani Leonardo Silva, da aldeia Aguapeú, em Mongaguá,
no litoral Sul, se transformou em modelo de agricultor familiar a ser
seguido. Ele é um dos pioneiros em todo o Estado de São Paulo a integrar
o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Agricultura Familiar, do
Governo Federal.
Leonardo
(foto) fornece periodicamente parte de sua produção para o Banco de
Alimentos da Prefeitura de Itanhaém, que opera o PAA na cidade por meio
de parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Para conseguir produzir esse excedente e comercializá-lo, contou com o
apoio de técnicos do Departamento de Agricultura de Itanhaém e da
Fundação Nacional do Índio, a Funai.
Além de se integrar aos esforços de segurança alimentar para famílias
de baixa renda de Itanhaém, Leonardo também contribui para a
conservação da cultura alimentar de sua comunidade. Ele cultiva um
alimento considerado sagrado pelo povo Guarani, o milho Guarani, o avaxi etei.
É da roça de Leonardo que estão saindo em quantidade razoável sacas de sementes desse raro cereal (ver box) para entrega e posterior cultivo em aldeias da região e em outras, mais distantes.
PAA
Os indígenas estão no topo de lista de prioridades do PAA em Itanhaém, segundo gestores do Banco de Alimentos do município. A atenção junto aos índios se insere em duas frentes: garantir que haja alimento de qualidade para a sua dieta e dar suporte às quase sempre deficientes produções agrícolas das aldeias.
Os indígenas estão no topo de lista de prioridades do PAA em Itanhaém, segundo gestores do Banco de Alimentos do município. A atenção junto aos índios se insere em duas frentes: garantir que haja alimento de qualidade para a sua dieta e dar suporte às quase sempre deficientes produções agrícolas das aldeias.
“Iniciamos essa estratégia com as aldeias por meio da Funai-
Coordenação Regional do Litoral Sudeste”, explica Luciana de Melo Costa,
gestora do banco, ligado à Secretaria de Educação local.
“Além do PAA, buscamos dar prioridade à inclusão do indígena também
nos demais programas de segurança alimentar que se seguiram, como o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Paulista de
Agricultura de Interesse Familiar (PPAIS)”, recorda Luciana.
‘O trabalho de identificação de potenciais produções agrícolas nas reservas demarcadas teve início em 2010 e contou com o suporte técnico do Departamento de Agricultura de Itanhaém’
Leonardo da Silva foi o primeiro produtor indígena a integrar o PAA
no município. “Acreditamos que seja o primeiro do Estado a participar do
programa”, afirma Luciana. A produção de qualidade – 30 quilos de
mandioca e 447 quilos de palmito pupunha – e as entregas contínuas de
Leonardo ao longo de 2015 são provas de que é possível a integração do
indígena como beneficiário e produtor.
“Acreditamos que, por todas as especificidades que cercam os povos
indígenas, demos um passo importante na nossa gestão, trazendo ações
efetivas de inclusão e enriquecimento das políticas públicas de
segurança alimentar e nutricional locais. Para 2017, nosso plano é
diversificar a produção e aumentar o número de produtores
indígenas beneficiários”, diz Luciana.
Produção familiar e tradicional
Na Aldeia Aguapeú vivem cerca de 100 indígenas de 12 famílias. Eles cultivam açaí, pupunha, banana, mandioca, batata doce e, claro, milho guarani. Praticamente todos os produtos são para a subsistência, com exceção da mandioca e do palmito pupunha, que é vendido fora do tekoá (aldeia Guarani).
Na Aldeia Aguapeú vivem cerca de 100 indígenas de 12 famílias. Eles cultivam açaí, pupunha, banana, mandioca, batata doce e, claro, milho guarani. Praticamente todos os produtos são para a subsistência, com exceção da mandioca e do palmito pupunha, que é vendido fora do tekoá (aldeia Guarani).
Leonardo é uma exceção entre os outros cultivadores do tekoá.
É o maior produtor entre todos que ocupam o morro, a aldeia está
localizada em um morro bastante íngreme, isolado por um rio, o Aguapeú, e
de caminhos escorregadios. Um local difícil de produzir e de escoar
essa produção.
São cerca de seis hectares, ou 60 mil metros quadrados, onde ficam os
cultivos mantidos por Leonardo, que também cuida de um orquidário. Das
suas plantações, é possível avistar o mar e o Centro de Mongaguá, cidade
onde fica a Aguapeú, núcleo indígena surgido na década de 1930 e que só
foi demarcado em 1998.
Em pequenas áreas mais planas aqui e ali, por entre bananeiras,
pupunheiras, palmeiras de açaí e outras espécies mais tradicionais,
Leonardo cultiva as suas mudas de milho. São duas colheitas por ano. A
primeira ainda passava pelo processo de secagem, em abril último.
Leonardo Silva entregou com periodicidade e qualidade cerca de 450 quilos de palmito pupunha e 30 quilos de mandioca ao Programa de Aquisição de Alimentos em Itanhaém.
Reservado e migrante como costumam ser os Guarani, Leonardo chegou à
Aguapeú nos anos 1990. Ele nasceu em Santa Catarina, numa aldeia próxima
a Chapecó. Plantou milho Guarani desde que era um kyringue (criança em
Guarani).
“Quando eu comecei a plantar foi o pessoal da Funai que me ajudou
bastante para entregar. Está muito legal a plantação. É difícil chegar a
esse ponto em que cheguei ”, diz Leonardo. “Tenho muito orgulho do meu
trabalho e não posso parar mesmo, agora, depois de tudo isso”, brinca.
Ele afirma que fornecer o milho para a merenda das crianças Guarani será
um “outro grande orgulho”.
in. http://litoralsustentavel.org.br/boas-praticas/guarani-supera-dificuldades-e-vira-fornecedor-do-paa/