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Imagem: Ascom/Consea |
De 6 a 8 de março,
será realizado em Brasília o Encontro Nacional 5ª+2. O encontro irá
analisar a conjuntura e monitorar o 2º Plano Nacional de SAN, à luz das
proposições da 5ª Conferência Nacional Segurança Alimentar e
Nutricional, realizada na capital federal em novembro de 2015.
Além da análise da conjuntura, a 5a+2 iniciará o delineamento das
prioridades para a 6a Conferência Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional.
O Consea ouviu militantes que participam ou já participaram direta ou
indiretamente das conferências. Confira abaixo os desafios apontados.
Gleyse Peiter
Secretária-executiva da Rede
Nacional de Mobilização Social (Coep) e ex-conselheira do Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea)
O tema soberania e segurança alimentar e nutricional ainda não
está na pauta dos jovens. A execução das políticas públicas nas
comunidades precisa desses jovens engajados para fazer o seu controle
social e, o mais importante, eles querem fazer isso. É preciso fazer
campanhas de mobilização por meio das redes sociais e sites, não só do
Consea, mas das organizações que participam do conselho, tentando fazer
uma "escuta "sobre a situação real de cada local, mobilizar também
fortalecer a participação social, capacitar as pessoas, com foco no
controle social das políticas, e fortalecer o conceito de "comida de
verdade".
Ana Lúcia Pereira
Integrante dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) e conselheira do Consea
Para que a agenda tenha pontos e estratégias comuns é preciso que
se parta do princípio de que a soberania e segurança alimentar e
nutricional pressupõe a democracia e o desenvolvimento integral do
indivíduo e do grupo ao qual está inserido. O autoritarismo e a ausência
do Estado no campo da saúde, da educação, da segurança pública, impede
que as famílias oriundas dos grupos sociais mais vulneráveis possam
produzir o seu alimento ou ter acesso ao mesmo de forma digna e
soberana. Nesse sentido, nos próximos dois anos temos que pautar a luta
pela terra, o combate ao racismo institucional e ressaltar a importância
da soberania e segurança alimentar e nutricional em todas as nossas
ações. Entre as principais lacunas do 2º Plansan, destaco a ausência do
combate ao racismo institucional.
Sônia Lucena
Professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-conselheira do Consea
Uma profunda revisão deve ser feita na tentativa de mobilizar os
atores sociais para recuperar suas energias e reiniciar a luta pela
soberania e segurança alimentar e nutricional. Cada dia sinto um
distanciamento desse tema nas pautas de prioridades locais ou de apoio
aos que ainda resistem. Os órgãos ligados à nutrição poderiam mobilizar
os profissionais para assumirem esse tema como prioritário. As
tentativas feitas até agora apresentam resultados bastante frágeis.
Temos que entender que parte da população tem acesso a esses
profissionais e a formação deles é bastante insuficiente para trabalhar o
tema de segurança alimentar e nutricional e terem argumentos para
defenderem a “comida de verdade”.
Renato S. Maluf
Professor do Programa de
Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e
Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e
ex-presidente do Consea
O maior desafio da 5ª+2 é oferecer para a sociedade um retrato do
que se passa na área da soberania e segurança alimentar e nutricional
no Brasil. O Consea está sob o desafio de construir uma agenda que,
diferentemente do passado recente, está mais distanciada da agenda
governamental. Uma boa questão para reflexão nesse momento é se e com
que sentido podemos continuar nos dedicando a construir uma agenda
propositiva.
Valéria Burity
Secretária-geral da Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar (Fian Brasil) e ex-secretária executiva do Consea
Uma pauta prioritária são as revogações de medidas que impactam
sobremaneira direitos humanos e o direito à alimentação. A austeridade
tem público certo, afeta principalmente pessoas empobrecidas. Em relação
ao governo, o Plansan ainda é pouco usado como instrumento efetivo para
articulação e integração de ações. Quanto à sociedade civil, falta se
apoderar e exigir mais as metas que estão neste instrumento.
Vanessa Schottz
Integrante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) e do Consea
Fomos muito felizes em propor o lema “Comida de Verdade” para a
5ª Conferência, pois é um lema de fácil compreensão e que tem potencial
para dialogar com os diversos campos da sociedade brasileira. Todavia, o
cenário da última conferência para cá mudou sensivelmente. A pergunta
é: comida de verdade para quem? Como assegurar comida de verdade em
contextos marcados pela violência, pelo desemprego, por desertos
alimentares, pela exploração do trabalho, falta de saneamento básico? O
corte orçamentário inviabiliza a execução do Plansan em sua plenitude.
Maria Emília Pacheco
Integrante da Federação de
Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) e do Fórum
Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN).
Ex-presidenta do Consea
Os retrocessos e violações de direitos ocorreram e continuam
ocorrendo. Precisamos enfatizar o chamamento que deve ter cada vez mais o
sentido de “restaurar o Estado”, que está capturado pelos processos de
financeirização e privatização da terra, água, bens da natureza. É
preciso sensibilizar os prefeitos e governadores para o compromisso de
ações públicas para a garantia da dignidade humana com a “comida de
verdade” e não com a “ração humana”. É preciso denunciar os rumos da
austeridade econômica, que atinge os pobres e não os ricos. A análise
sobre o orçamento é vital para a execução do Plansan.
Nathalie Beghin
Pesquisadora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e ex-conselheira do Consea
É preciso dialogar com os diversos segmentos. Sinto falta da
dimensão de gênero: ainda é muito ausente. Contudo, como prioridade para
os próximos dois anos, sugiro privilegiar a juventude – organizar a
comunicação prioritariamente em torno desse grupo populacional, de modo a
transformá-lo em “porta vozes” da “comida de verdade”. Valeria a pena
pensar numa agenda positiva e aglutinadora para 2018 e 2019, aumentar a
consciência em torno da necessidade de combater obesidade. A organização
de alguns grupos focais poderia ajudar a montar uma campanha. A
linguagem e o desenho devem estar orientados para a juventude. Tem que
ser uma campanha que mobilize todos os setores.
Írio Conti
Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional da UFRGS e conselheiro do Consea
O desmonte das políticas públicas está atingindo fortemente as
populações pobres. Os mais afetados acabam sendo as populações negras,
indígenas e povos e comunidades tradicionais. Os documentos do Consea
devem frisar esses segmentos que são os mais diretamente atingidos pela
fragilização ou ausência de políticas públicas de segurança alimentar e
nutricional. É preciso lutar para a manutenção dos programas sociais e
sua ampliação, das políticas e programas de estímulo à geração de
emprego e renda e da recomposição orçamentária para os programas
sociais. Temos que arrancar compromissos do governo com a implementação
do Plansan e com a manutenção das políticas públicas de promoção dos
direitos sociais.
Élido Bonomo
Professor na Universidade Federal de
Ouro Preto. Atua nas áreas de segurança alimentar e nutricional,
agricultura familiar e políticas públicas. Presidente do Conselho
Federal de Nutricionistas (CFN)
É necessário afirmar o desenvolvimento rural sustentável, os
sistemas alimentares saudáveis, portanto a necessidade da transição do
sistema de produção de alimentos convencionais para a agroecologia.
Devemos fortalecer todas as ações possíveis com vista a serem
incorporadas nos planos de segurança alimentar e nutricional e no
Planapo [Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica] as
principais deliberações da conferência como incidência sobre os
orçamentos ministeriais, por meio da Caisan [Câmara Interministerial de
Segurança Alimentar e Nutricional]. Além disso, é preciso denunciar toda
forma de redução ou rebaixamento dos orçamentos públicos que afetarão
os direitos sociais conquistados.
Edição: Francicarlos Diniz, com Nathan Victor (estagiário)